10 de maio de 2010

O «Documento dos Nove»

Parece a alguns oficiais que se chegou a um ponto crucial do processo revolucionário iniciado em 25 de Abril de 1974 e que é o momento das grandes opções, tomadas com serena e inquebrantável energia, em relação ao futuro deste país.
Parece-lhes, também, que é o momento de se clarificarem posições políticas e ideológicas, terminando com ambiguidades que foram semeadas e progressivamente alimentadas. [...]
O Movimento das Forças Armadas nasceu do espírito e do coração de um punhado de oficiais democratas, patriotas e antifascistas que decidiram pôr termo a uma longa noite fascista e iniciar com todo o povo português uma nova caminhada de paz, progresso e democracia, na base de um Programa Político universalmente aceite e respeitado. Sabe-se como as grandes movimentações das massas populares abriram novas perspectivas à revolução democrática iniciada em 25 de Abril de 1974, e como, sobretudo a partir das eleições gerais para a Assembleia Nacional Constituinte, a via para o socialismo passou a ter carácter irreversível.
O Programa do Movimento das Forças Armadas era o elemento teórico da revolução democrática, mas continha já o essencial das propostas políticas que apontavam para um dado modelo de socialismo. [...] Infelizmente, porém, foi-se assistindo à desagregação muito rápida das formas de organização social e económica que serviam de suporte a largas camadas da média e pequena burguesia [...] e, paralelamente, verifica-se a progressiva decomposição das estruturas do Estado. Formas selvagens e anarquizantes de exercício do poder foram-se instalando por toda a parte (até no interior das Forças armadas). O país encontra-se profundamente abalado, defraudado relativamente às grandes esperanças que viu nascer com o MFA. [...]
É necessário repelir energicamente o anarquismo e o populismo, que conduzem inevitavelmente à catastrófica dissolução do Estado [...]. É necessário reconquistar a confiança dos Portugueses, acabando com os apelos ao ódio e as incitações à violência. Trata-se de construir uma sociedade de tolerância e de paz e não uma sociedade sujeita a novos mecanismos de opressão.

7 de Agosto de 1975, subscrito por capitão Vasco Lourenço, major Canto e Castro, capitão-de-fragata Vítor Crespo, major Costa Neves, major Melo Antunes, major Vítor Alves, brigadeiro Franco Charais, brigadeiro Pezarat Correia, capitão Sousa e Castro

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