Uma das causas porque o PREC (Processo Revolucionário Em Curso) me deixa tantas saudades é por causa das siglas. Os documentos militares, provavelmente por serem feitos por militares que são homens de acção e não estão para perder tempo a escrever palavras completas, estão cheios de siglas* em que normalmente as NT (nossas tropas) se confrontam com o IN (inimigo).
Depois do 25 de Abril e por causa do MFA (Movimento das Forças Armadas) a sociedade em geral começou a importar alguns desses aspectos da terminologia castrense e as siglas foram um deles.No frenesim que se seguiu ao 25 de Abril o português médio foi submetido a uma doutrinação acelerada sobre siglas, a começar pelas dos partidos existentes, o PCP (Partido Comunista Português), o MDP/CDE ( Movimento Democrático Português / Comissão Democrática Eleitoral), o PS (Partido Socialista, muitas vezes designado ao princípio por PSP, engano que devia irritar sobremaneira os socialistas) ou o MRPP (Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado).A aprendizagem também teve de se estender às colónias, porque os movimentos de libertação dos territórios africanos, até aí designados genericamente por terroristas ou turras, também tinham as suas siglas próprias: na Guiné, o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), em Moçambique, a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e em Angola, que estava servida logo por três movimentos diferentes, FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola).
Depois, a partir de Maio de 74 com a Primavera, foi uma espécie do desabrochar das siglas, de organizações que se fundavam a sério e viriam a vingar como o PPD (Partido Popular Democrático) ou o CDS (Centro Democrático Social), outras que também pareciam também sérias mas não destinadas a vingar como o PCSD (Partido Cristão Social Democrata), outras que só se davam a conhecer pelas paredes, em cartazes como o PSDI (Partido Social Democrático Independente) ou só em pinturas como o PTDP (Partido Trabalhista Democrático Português).
Mas aquelas eram siglas que, apesar do uso do termo Social Democrático, se dirigiam à direita sociológica, coisa que continuava a existir mas que andava acanhada.
Siglas modernas como deve ser eram as da esquerda como o MES (Movimento da Esquerda Socialista), a FSP (Frente Socialista Popular), o PUP (Partido de Unidade Popular), a LCI (Liga Comunista Internacionalista), o PRP-BR (Partido Revolucionário do Proletariado – Brigadas Revolucionárias) ou a LUAR (Liga de União e Acção Revolucionária).Mas o que era mesmo o último grito eram siglas com ML (Marxista-Leninista).
Ele era o PCP-ML (Partido Comunista de Portugal – Marxista Leninista), o CARP-ML (Comité de Apoio à Reconstrução do Partido – Marxista Leninista), o CMLP (Comité Marxista Leninista Português), a OCMLP (Organização Comunista Marxista Leninista Portuguesa) ou a ORPC-ML (Organização Revolucionária Portuguesa Comunista – Marxista Leninista).
Enfim, não será um exagero total considerar que cada grupo de amigos deu em politizar-se e arranjar uma sigla para o seu grupo…
E partido que quisesse mostrar que tinha organização (seguindo os comunistas…) tinha que ter também uma organização para a juventude e outra para as mulheres, com as siglas respectivas: UJC, UEC, MDJ, MDM, JS, JSD, JC, FEML, etc. A multiplicação de siglas nas mensagens a que os portugueses estavam sujeitos atingiu tais proporções que lhes era impossível compreender o significado político de tantas siglas.
O PCP foi o primeiro a aperceber-se disso e, logo no Verão de 74, quaisquer dos seus cartazes apelando à participação em manifestações apareciam assinados por mais de uma meia dúzia de siglas. Evidentemente que mais não eram do que extensões do próprio partido.
Mas o que lhes interessava era dar a impressão que, por detrás de um extenso elenco de siglas, estava um enorme movimento popular.
Citando de memória uma convocatória para um comício nessa época teria uma meia dúzia de siglas: PCP, MDP/CDE, UJC (União da Juventude Comunista), UEC (União dos Estudantes Comunistas), MJT (Movimento da Juventude Trabalhadora), MDM (Movimento Democrático das Mulheres), MDJ (Movimento Democrático da Juventude) e CGTP (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses).O PS, ainda incipiente e ingénuo, volta e meio era enrolado e lá emprestava o nome para a convocatória porque concordava com as razões expressas no cartaz para a realização do comício.
O PCP ainda se podia permitir sonhar com a unidade da esquerda.
Estava-se em Agosto de 1974. Spínola ainda era Presidente da República. Ainda faltavam oito meses para que a contabilidade dos votos (e dos deputados eleitos) substituísse a contabilidade das siglas…
Depois do 25 de Abril e por causa do MFA (Movimento das Forças Armadas) a sociedade em geral começou a importar alguns desses aspectos da terminologia castrense e as siglas foram um deles.No frenesim que se seguiu ao 25 de Abril o português médio foi submetido a uma doutrinação acelerada sobre siglas, a começar pelas dos partidos existentes, o PCP (Partido Comunista Português), o MDP/CDE ( Movimento Democrático Português / Comissão Democrática Eleitoral), o PS (Partido Socialista, muitas vezes designado ao princípio por PSP, engano que devia irritar sobremaneira os socialistas) ou o MRPP (Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado).A aprendizagem também teve de se estender às colónias, porque os movimentos de libertação dos territórios africanos, até aí designados genericamente por terroristas ou turras, também tinham as suas siglas próprias: na Guiné, o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), em Moçambique, a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e em Angola, que estava servida logo por três movimentos diferentes, FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola).
Depois, a partir de Maio de 74 com a Primavera, foi uma espécie do desabrochar das siglas, de organizações que se fundavam a sério e viriam a vingar como o PPD (Partido Popular Democrático) ou o CDS (Centro Democrático Social), outras que também pareciam também sérias mas não destinadas a vingar como o PCSD (Partido Cristão Social Democrata), outras que só se davam a conhecer pelas paredes, em cartazes como o PSDI (Partido Social Democrático Independente) ou só em pinturas como o PTDP (Partido Trabalhista Democrático Português).
Mas aquelas eram siglas que, apesar do uso do termo Social Democrático, se dirigiam à direita sociológica, coisa que continuava a existir mas que andava acanhada.
Siglas modernas como deve ser eram as da esquerda como o MES (Movimento da Esquerda Socialista), a FSP (Frente Socialista Popular), o PUP (Partido de Unidade Popular), a LCI (Liga Comunista Internacionalista), o PRP-BR (Partido Revolucionário do Proletariado – Brigadas Revolucionárias) ou a LUAR (Liga de União e Acção Revolucionária).Mas o que era mesmo o último grito eram siglas com ML (Marxista-Leninista).
Ele era o PCP-ML (Partido Comunista de Portugal – Marxista Leninista), o CARP-ML (Comité de Apoio à Reconstrução do Partido – Marxista Leninista), o CMLP (Comité Marxista Leninista Português), a OCMLP (Organização Comunista Marxista Leninista Portuguesa) ou a ORPC-ML (Organização Revolucionária Portuguesa Comunista – Marxista Leninista).
Enfim, não será um exagero total considerar que cada grupo de amigos deu em politizar-se e arranjar uma sigla para o seu grupo…
E partido que quisesse mostrar que tinha organização (seguindo os comunistas…) tinha que ter também uma organização para a juventude e outra para as mulheres, com as siglas respectivas: UJC, UEC, MDJ, MDM, JS, JSD, JC, FEML, etc. A multiplicação de siglas nas mensagens a que os portugueses estavam sujeitos atingiu tais proporções que lhes era impossível compreender o significado político de tantas siglas.
O PCP foi o primeiro a aperceber-se disso e, logo no Verão de 74, quaisquer dos seus cartazes apelando à participação em manifestações apareciam assinados por mais de uma meia dúzia de siglas. Evidentemente que mais não eram do que extensões do próprio partido.
Mas o que lhes interessava era dar a impressão que, por detrás de um extenso elenco de siglas, estava um enorme movimento popular.
Citando de memória uma convocatória para um comício nessa época teria uma meia dúzia de siglas: PCP, MDP/CDE, UJC (União da Juventude Comunista), UEC (União dos Estudantes Comunistas), MJT (Movimento da Juventude Trabalhadora), MDM (Movimento Democrático das Mulheres), MDJ (Movimento Democrático da Juventude) e CGTP (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses).O PS, ainda incipiente e ingénuo, volta e meio era enrolado e lá emprestava o nome para a convocatória porque concordava com as razões expressas no cartaz para a realização do comício.
O PCP ainda se podia permitir sonhar com a unidade da esquerda.
Estava-se em Agosto de 1974. Spínola ainda era Presidente da República. Ainda faltavam oito meses para que a contabilidade dos votos (e dos deputados eleitos) substituísse a contabilidade das siglas…
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